Após diversas medidas para corte de despesas estabelecidas pela direção dos Correios, os trabalhadores pedem a instalação de um comitê de crise para tratar o futuro da empresa.
Na última sexta-feira (9), a estatal divulgou um relatório mostrando que o prejuízo do ano de 2024 foi de R$2,6 bilhões.
Em busca de reverter a situação, os Correios anunciaram que pretendem economizar R$1,5 bilhão este ano.
A fim de estabilizar a situação financeira da empresa, a diretoria anunciou as seguintes medidas:
Redução nas jornadas de trabalho com redução salarial;
Transferência voluntária e temporária de carteiros e atendentes comerciais para centros de tratamento;
Retorno obrigatório ao trabalho presencial.
Em comunicado, os Correios informaram que a implementação do plano de redução de despesas tem como objetivo fortalecer a sustentabilidade financeira da empresa e garantir a continuidade dos serviços prestados à população.
"Ainda que 85% das unidades sejam consideradas deficitárias, os Correios garantem o acesso universal de todas e todos aos serviços postais, com tarifas justas, em cada um dos 5.567 municípios atendidos", disse a empresa.
Entre as medidas adotadas para a redução de custos está a prorrogação do Programa de Desligamento Voluntário (PDV), em que os funcionários podem solicitar demissão voluntária em troca de benefícios.
O plano prevê ainda o compartilhamento de unidades operacionais; venda de imóveis ociosos; revisão de contratos; reestruturação da rede tratamento e de atendimento; otimização da malha operacional e logística; lançamento de uma plataforma de e-commerce e inclui a captação R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB), o banco dos Brics.
“Com a implementação das medidas e a captação de investimento do NDB, a previsão é reduzir 12% dos custos operacionais e aumentar o lucro operacional da empresa em cerca de R$3,1 bilhões ao ano”, diz comunicado dos Correios.
Após o anúncio das medidas, a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Findetec), uma das entidades que representam os trabalhadores dos Correios, diz que a abertura de um canal de diálogo entre a gestão dos Correios e seus trabalhadores é indispensável para a resolução do problema.
“Mudanças estruturais só têm efetividade quando debatidas com quem opera a empresa diariamente. A transparência nos dados econômicos, operacionais e atuariais, compartilhados previamente com representantes dos empregados, evita retrocessos e permite a construção de soluções alinhadas à realidade da base”, disse a Fentec em documento encaminhado ontem (14) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A entidade solicitou uma audiência com o presidente para debater as questões.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect), outra entidade que representa os trabalhadores da empresa, anunciou que vai lançar um Comitê em Defesa dos Correios, na próxima quarta-feira (21), na Câmara dos Deputados.
Segundo a entidade, a iniciativa tem apoio da Frente Parlamentar em Defesa dos Correios.
Os trabalhadores dos Correios estão pedindo, além da criação de um Comitê de Crise, que sejam suspensas todas as medidas que possam prejudicar a qualidade dos serviços ou os direitos dos funcionários enquanto durarem as negociações com a direção da empresa.
Além disso, pedem que o governo devolva os dividendos pagos pela estatal entre 2011 e 2013 — cerca de R$3 bilhões repassados à União nesse período.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), feito em 2017, mostra que a situação financeira dos Correios piorou bastante entre 2011 e 2016.
A empresa perdeu a capacidade de pagar suas dívidas no longo prazo, passou a depender mais de empréstimos e teve grande queda nos lucros.
Segundo a CGU, devido ao constante aumento dos prejuízos acumulados, o patrimônio líquido reduziu em aproximadamente 92,63% no período.
Na visão das entidades que representam os trabalhadores, a retirada de recursos da empresa contribuiu para a redução do capital de giro — dinheiro necessário para manter as atividades do dia a dia — e dificultou investimentos importantes em tecnologia, infraestrutura e logística. Elas apontam que essa falta de investimentos acabou agravando as dívidas e forçou a empresa a fazer empréstimos emergenciais para continuar funcionando.
“A recomposição desses recursos no caixa da ECT permitirá a retomada de projetos estratégicos, como a modernização de centros de triagem e a implementação de soluções logísticas inteligentes, sem qualquer prejuízo aos direitos ou benefícios dos empregados, preservando a universalidade dos serviços postais”, diz o ofício encaminhado à Presidência.